O Senhor do Pássaro do Sol. (Ou Mandingás...)
"Quando os malinque adoecem chamam os espíritos e pedem proteção e cura."Então o velho sentado em minha frente e com jeito diferente de falar, dirigiu-se a mim, com sua voz fraca e rouca...-Está vendo aquele Passo-Preto na gaiola?É um pássaro do Sol...Veio de lá e por isso ficou preto assim...Não morreu o teu espírito, mesmo quando sua carne virou carvão...Seu canto vem de lá...VEja, canta afinado em Sol...Assim sou eu, como ele...Por isso sou preto...Preto, ói que até brilha...Antes, muito antes, meu bisneto, mamãe contou q a mãe de sua mãe foi uma das primeiras mandingas que falou a língua dos brancos... E eles falavam q nós num tinha alma...MAs aí é que tá o segredo...NOssa alma é diferente, nem pior nem melhor, diferente...Somos como os pássaros do Sol...-MAs eu sou branco...Respondi-lhe na minha ingenuidade infantil...( eu tinha pouco mais de seis anos) NUm sou como um pássaro do Sol...-Ainda não sabes o q é...AInda não sabes...É branquinho assim por fora, mas por dentro é q nem eu, q nem todo mundo...Porém, um dia irá saber....NOssos costumes são outros, nossos valores são outros..O q é real...Este pásssaro vive preso...Não lhe dou a liberdade porque não saberá voar....Não conhece o que é real...Mas um dia conhecerá...Não nasceu para ficar preso...Seu dia chegará e terá sua liberdade, como tive a minha...E a valorizará...Respirará o ar dela e nunca esquecerá o valor desta sensação...Assim também, pequeno bisneto...Será você...Se despojará de todos os nomes que lhe derem,de todos os bens que os homens almejam, de todas as mazelas que escolhem viver... e um dia saberá As rezas, os cantos, Então, quando mais nada tiver, é que tudo de verdade terá. NEste dia, serás também um Mandingá...OLhei-o no fundo dos olhos... Ali olhando-o daquela maneira parecia muito frágil ... Seu sorriso banguelo, onde um dente frontal inferior me causava um certo deboche (era eu um caçoador muito dos serelepes) me trazia tb enorme alegria...Figura mais intrigante para aquela infância rodeada de espíritos juvenis...Ali eu via além...NAqueles olhos velhinhos, onde não se escondia por mim, que somente em férias estava presente ali, uma sinonima admiração, eu via um brilho, uam força que não conhecia antes.LEmbro-me bem, Empunhava uma bengala intrigante...Retirou-se apoiado nela, a um pequeno quarto ao lado do cozinhão ....E eu fiquei lá, na mureta do terreiro, olhando a gaiola do Pássaro do Sol pelo resto da tarde.
Huberth Allan...